Jornalista formada pelo Mackenzie e com passagens por diferentes veículos, como Glamour e Vogue, Luanda Vieira é uma profissional da área da moda que decidiu seguir de forma autônoma após um burnout. Com o podcast o Corre Delas, uma newsletter no substack Vamos falar de amor? e com seus conteúdos diários no próprio instagram, a jornalista, durante palestra no curso de Jornalismo de Moda, Beleza e Lifestyle, da ESPM, em parceria com a revista Glamour, trouxe reflexões sobre o impacto da comparação e do medo de errar nas profissões criativas. Luanda Vieira compartilhou não só sua trajetória profissional, mas também os bastidores de sua carreira, destacando como a insegurança pode criar barreiras que muitos criativos enfrentam diariamente.
Em um mercado onde o destaque — ou o número de seguidores nas redes sociais — pode parecer sinônimo de sucesso, percebemos que a comparação e o medo de errar minam o bem-estar e paralisam carreiras. Essa lógica de validação impõe um modelo de sucesso que raramente contempla trajetórias singulares, plurais ou não convencionais. Isso afeta não apenas profissionais do mercado criativo, mas principalmente aqueles que vivem do processo de criação e que dependem de sua sensibilidade, intuição e liberdade para poder inovar.
Profissões como designers, estilistas, redatores, artistas e comunicadores em geral exigem uma constante reestruturação de ideias durante todo o fluxo de criação. No entanto, quando o medo de não agradar ou de falhar toma conta do processo, o que deveria ser criação se torna paralisação.
O sucesso é uma receita feita de fórmula ou autenticidade?
Iremos partir do entendimento de que a comparação e o medo de errar não nos paralisam por uma falta de direção, mas sim porque passamos a acreditar que existe um único caminho certo a ser seguido — geralmente o caminho que vemos sendo aplaudido nas redes. No fim do dia, trata-se da ilusão de que o sucesso tem uma fórmula exata, o que nos leva a uma mentalidade que sufoca a nossa autenticidade, abala nossa saúde mental e, ironicamente ou não, apaga justamente tudo aquilo que deveria nos diferenciar: o nosso estilo, a nossa visão de mundo e o nosso modo — que deveria ser único — de criar.
Como disse a criadora de conteúdo em sua aula: “Além de competência, se eu pudesse definir em uma palavra a minha entrada no mercado de trabalho que eu almejava seria estratégia.” Estratégia, nesse contexto, não é apenas um plano frio — mas também uma forma consciente de proteger sua autenticidade.
Direcione sua perspectiva para o todo
Mas, vamos falar sobre pluralidade? Porque a liberdade criativa também depende do repertório que escolhemos cultivar, e isso implica, necessariamente, sair da nossa bolha. A repetição de fórmulas só existe porque nos cercamos de referências parecidas, vindas das mesmas origens e com os mesmos filtros. A criatividade só se expande quando olhamos para o que é diferente de nós: outras culturas, realidades, gêneros, raças e formas de existir. E, sem diversidade, o mercado criativo se torna uma vitrine de repetições disfarçadas de tendência.
“Um profissional que se destaca na moda é aquele que olha para a política, é o profissional que olha para a sustentabilidade, é o profissional que olha para outros lugares — e não só a moda.” ressalta a jornalista.
Ela lembra que, na sua primeira cobertura de uma semana de moda, pela Glamour — em Nova York —, escolheu mudar o olhar. Em vez de focar apenas nos desfiles, passou a explorar o street style. Ia de metrô, em vez de carro, para observar como as pessoas se vestiam e como se comportavam. A sua leitora no veículo não era a leitora que sonhava em usar um look de passarela, ela queria saber como transformar aquilo em algo possível no dia a dia. Essa virada de perspectiva foi o que tornou aquele conteúdo relevante.
Deixe de duvidar e comece a acreditar!
Toda a cultura da performance — intensificada pelas redes sociais — cria uma sensação de urgência em torno do dever de acertar de primeira e da obrigação de fazer dar certo. Mas, afinal, o que isso tem gerado nas pessoas? Ansiedade, bloqueios criativos e inúmeras decisões profissionais baseadas no medo — e não no sonho.
E esse peso nem sempre é o mesmo para todo mundo. “Eu precisava provar o tempo inteiro que era boa para ser contratada, que era boa para ser promovida. E eu acho que isso muda muito quando se é uma pessoa negra, que não pode errar.” Isso nos mostra que o direito de falhar, de testar, de recomeçar ainda é um privilégio.
Para além da estratégia, a nossa carreira ainda pode ser aquilo que faz o nosso coração bater mais forte e os nossos olhos brilharem. A ideia aqui não é romantizar o processo, mas lembrar que propósito e estratégia não são opostos — são complementares.
A Luanda de hoje não só entendeu, como compartilhou isso com nitidez: “Tudo que eu quiser eu vou conquistar, porque eu sei como conquistar, e eu acredito nas coisas que eu faço.” Existe um tipo de potência que só se ativa quando a gente acredita no que estamos construindo, mesmo quando ninguém está nos olhando.
A pergunta que fica após as falas da comunicadora é: em que momento a comparação com os outros deixou de te inspirar e passou a te paralisar? Quando foi que ela começou a te fazer duvidar do seu verdadeiro propósito? Esse pensamento chega de mansinho no nosso dia a dia, mas, quando percebemos, já se tornou extremamente significativo. É nele que muitas carreiras acabam se desviando do caminho da autenticidade que tanto buscavam e começam a viver em função da expectativa alheia — o que mata, aos poucos, a potência e a essência que as tornou possíveis em primeiro lugar.