Na última segunda-feira (17/02), durante o penúltimo dia da Semana de Moda de Londres, Jonathan William Anderson apresentou a coleção outono-inverno 2020/21 para a sua marca semi homônima, JW Anderson. Nessa temporada, o estilista irlandês abriu mão das cores e estampas para trabalhar com formas e texturas, trazendo elementos estéticos da alta-costura do século passado, sem perder a contemporaneidade expressiva das peças.
Lapelas grandes e mangas bufantes fizeram parte do desfile, mas o destaque foi para o uso de pequenas tiras de plástico – que Anderson chamou de “celuloide antigo” – que enfeitaram os ombros de muitas modelos. Foto: Isidore Montag / Gorunway.com
Os 41 looks desfilados mostraram uma obsessão do designer com o movimento e a impressão de leveza, mesmo com a forma exagerada das roupas. Lapelas grandes e mangas bufantes fizeram parte do desfile, mas o destaque foi para o uso de pequenas tiras de plástico – que Anderson chamou de “celuloide antigo” – que enfeitaram os ombros de muitas modelos, evocando a neve em alguns momentos e as plumas de um filhote de pássaro em outros.
Busca por otimismo
Apesar de trabalhar com tons majoritariamente de preto e cinza, o estilista admitiu que queria “algo otimista” e, para isso, buscou referência na moda dos anos 1920, os chamados “Anos Loucos”, marcados pela liberdade do pós-guerra, as melindrosas e, especialmente, a moda de Coco Chanel.
O otimismo de Anderson e a loucura da década de 20 traduzem a ideia do estilista de que adentrar um recinto não deve ser visto como um fato banal, mas sim como uma ação precisamente executada. Para ele, é preciso “ter um firme senso de propósito” e “entrar com um sorriso”, como ele compartilhou em seu Instagram alguns dias antes do desfile. Essas instruções revelam uma certa teatralidade em sua personalidade, que é visível na marca. Entretanto, JW Anderson é teatral mas não exuberante. O estilista segue mais a linha de um monólogo em um pequeno palco do que uma grande produção no Teatro Municipal.
Holofotes em mim
Luís XIV, que governou a França no século XVII, insistia que os nobres do Palácio de Versalhes seguissem um rígido protocolo em qualquer situação, especialmente no momento de entrar em salões. Anderson não possui a extravagância do Rei Sol, mas ainda assim conseguiu provocar fortes reações com seu desfile, pois foi capaz de ousar – algo que o monarca fazia com frequência.
O talento de Anderson se vê materializado nos vestidos brilhantes e nos casacos largos, que atualizam a ousadia dos anos 20 do século passado para os anos 20 do século XXI. A combinação do couro, lã, cetim e veludo sugere uma cliente contemporânea e segura de si e de suas próprias escolhas, ciente não apenas de suas capacidades, mas também de seu potencial em entrar radiante em uma sala, sem precisar usar as rendas e bordados que tanto agradariam a Luís XIV.
Jonathan Anderson assegura mais uma vez seu compromisso em unir o minimalismo ao maximalismo, combinando o melhor dos dois mundos em roupas usáveis e modernas, um enorme (e lucrativo) atrativo para o público desse início de década.