Durante muito tempo, o jornalismo de beleza foi marcado por imposições: produtos que precisavam ser usados e tendências que deveriam ser seguidas para atingir o visual ideal. Mas em cenários de múltiplas identidades, consumo consciente e críticas aos padrões estéticos, a editoria precisou acompanhar esses movimentos, se distanciando cada vez mais dos manuais de regra para se transformar em espaços de escuta, diversidade e adaptação à realidade de seus leitores.
Em palestra no curso de Jornalismo de Moda, Beleza e Lifestyle, da ESPM em parceria com a revista Glamour, a editora de beleza Isabella Marinelli refletiu sobre a nova perspectiva dos conteúdos editoriais — menos prescritivos e mais humanos. Abaixo, os principais pontos que a profissional revelou sobre o tema.
Isabella Marinelli é editora de beleza da Revista Glamour
Compartilhamento de conhecimento
Em nossa sociedade atual, já não cabe mais ditar o que as pessoas têm que fazer. Os comandos que conhecíamos, como “use isso” e “aposte naquilo”, se tornaram ultrapassados diante das inúmeras opções de adaptação que nos são mostradas. Segundo a editora, tanto o acesso aos conteúdos como o jeito que o jornalismo de beleza se comunica com as pessoas carregam hoje um viés de compartilhamento de conhecimento. Mas como isso ocorre na prática?
Criando espaços de escuta e levando o público à experimentação – seja testando produtos em peles, corpos e cabelos diferentes, seja dialogando com as variadas rotinas, estilos de vida e narrativas próprias de cada leitor. Dessa maneira, a beleza passa a ser sobre experiências, e não sobre regras.
Diversidade em pauta: cada vez mais o jornalismo de beleza aborda a diversidade de corpos e rostos. (Foto: Reprodução)
Públicos distintos
Como criar conteúdo para mais de um público de maneira simultânea? Esse é um dos maiores desafios – e diferenciais – do jornalismo de beleza atual. Para Isabella, tanto os millennials quanto a geração Z possuem suas particularidades geracionais: o primeiro grupo busca o serviço e a praticidade, enquanto o segundo se preocupa com representatividade e propósito. Essa diferença reflete diretamente nas escolhas editoriais. Um bom exemplo está na matéria publicada pela Glamour de abril de 2024, intitulada “Por que a Geração Z está abandonando a tintura de cabelo e optando pela saúde em vez das mechas?”, que revela que 58% dos jovens entre 18 e 24 anos estão deixando de pintar os fios para adotar sua cor natural.
A pauta contempla, ao mesmo tempo, a funcionalidade e o autocuidado da saúde capilar que atraem os millennials e o desejo da geração Z por uma estética mais livre, autêntica e alinhada aos seus valores. É esse olhar duplo que a editoria de beleza busca valorizar diante das pontes geracionais que consomem suas revistas.
Beleza além da estética
Não basta falar de aparência. Beleza também é comportamento, socialização, contexto socioeconômico, política, tecnologia. Por meio de um público mais ativo, engajado e questionador nas redes sociais, o jornalismo de beleza foi impulsionado a ir além de uma vitrine de produtos.
Agora, a editoria busca analisar o que as marcas propõem: para quem, e com qual impacto. Quais valores as sustentam, quem está por trás das campanhas, quais discursos a maquiagem, skincare ou produto de cabelo estão carregando e por que os consumidores devem comprá-los. Ao traduzir essa visão mais ampla e significativa, o jornalismo de beleza se aproxima de um conteúdo consciente e essencial para a contemporaneidade, deixando de ser um mero manual de instruções para acolher e contemplar propósito, diversidade e representatividade.