Navegar pelas redes sociais sempre é um bom exercício para sabermos sobre o que acontece lá fora. Na clausura dos dias, a brecha digital permite assistir a um desfile de emoções e de desejos da primeira fila. Nos bastidores, não é preciso convite para curtir, comentar e compartilhar. O que a distância separou, a esperança uniu em um release de três sílabas: vacina.
Nunca um meme fez tanto sentido nesses tempos. Dando scroll nas telas em que estamos imersos, uma seringa de brilho abre um desfile da criatividade alheia. Não só pelo reflexo e pelo inusitado da imagem, mas imaginei que aquilo carrega nossa essência. Mais do que uma injeção de ânimo, a tranquilidade dos dias é injetável no braço e na mente de tantos que esperam por sua vez.
Enquanto não abrimos as novas portas do mundo, ficamos envoltos em dobras de roupas, tecidos e pensamentos que escolhem peças de um futuro próximo (e distante) do que vivemos. Um backstage de emoções, contradições e desaforos imprevistos.
Nesse tempo de adaptações, vamos nos organizando em filas de espera e de existência, confinados e esperançosos pela passagem dos dias. Podem parecer intermináveis, longas e exageradas, mas são a nova ordem do mundo. É preciso aguardar, retirar a senha e se preparar para um mundo novo/estranho que se descortina aos nossos olhos e nos faz seres presentes de corpo, alma e coração.
Idades, comorbidades e profissões à parte, a sensação de poder desfilar em um novo mundo atrai a atenção de muitos. Uma ansiedade pelo o que ainda há para viver. Um desfile de produções reveladoras de enganos e aflições, como os exageros de um street style.
Um seguido do outro, vestimos nossos corpos não apenas com nossas melhores roupas, mas com a esperança de encarar o futuro com olhos lapidados – marejados e brilhantes – pelas lições do presente. É nessa espera que a vacina injeta no braço aquilo por que lutamos por toda a vida: nossa dignidade de sermos humanos. Até a última gota!