Para um leitor casual, a revista de moda nada mais é do que uma vitrine para as grandes novidades do segmento, já o público fiel, no entanto, reconhece que, para além de roupas e sapatos, o veículo é um verdadeiro espelho do contexto — social, cultural ou até mesmo político — em que se encontra. A pluralidade do gênero é tamanha que, diante da possibilidade de escolher uma única publicação literária datada cem anos após sua morte, o escritor francês Anatole Frances elencou na revista de moda o meio ideal para fornecer um retrato do futuro da humanidade. Em 2025, um ano após o centenário de falecimento do autor, sua afirmação não poderia ser mais precisa, com esses veículos se atualizando na busca de refletir os valores que agora regem a sociedade.
Glamour Brasil passou por uma repaginação para poder atender aos novos tempos e os novos leitores
De fato, Frances poderia cumprir com sua afirmação até mesmo no mercado brasileiro, através de referências editoriais como a Glamour, uma das principais revistas de moda nacional. Resultado do trabalho coletivo de uma equipe altamente qualificada, o título, que surgiu nos Estados Unidos em 1939, é prova viva da constante adaptação das revistas não apenas às tendências do universo da moda, mas do mundo como um todo, no que hoje Renata Garcia define como “nova Glamour Brasil”.
Adoção de linguagem próxima ao público-alvo, ampliação de representatividade e mudanças envolvendo periodicidade e veículo de publicação marcam apenas algumas das adaptações assumidas no novo formato da Glamour, as quais foram exploradas na primeira aula do curso de extensão “Jornalismo de Moda, Beleza e Lifestyle”, realizado pela ESPM em parceria com a revista, no mês de maio. Aqui, reunimos estas e outras medidas que ampliarão sua visão do jornalismo deste mercado e de que forma podemos atender às novas demandas e hábitos de consumo de informação.
Desde 2022 Renata Garcia é diretora de conteúdo da Glamour Brasil. (Créditos: Glamour Brasil)
Conteúdo com propósito
Se um dia o jornalismo de moda já foi considerado supérfluo, hoje em dia essa concepção não poderia estar mais longe da verdade. Na redação moderna, as matérias são idealizadas com embasamento em mente, levando em consideração sua audiência feminina e como ela interage com o meio em que vive. Em função disso, são comuns temas que envolvem os direitos femininos, o consumo consciente, a valorização das marcas independentes e da economia local, além do impacto social de tópicos já tradicionalmente cobertos.
O título, por sua vez, se dispõe como um espaço seguro de celebração e sororidade à mulher, enquanto,simultaneamente dá foco aos estilos do hi-lo e do vintage, a adaptação de passarelas para o dia a dia, o body positivity e tudo aquilo que transcende as tendências.
Diversidade e acessibilidade
Se a moda é voltada para todos, por que as revistas desse segmento não seriam? Segundo a editora, é imprescindível que os canais editoriais sejam acessíveis para um grande número de pessoas, o que envolve desde uma linguagem leve e mais próxima do público-alvo até a ampla representatividade e inclusão, seja de corpos, etnias ou sexualidades. Esta, ainda, se estende para o expediente, uma vez que, nada basta atender a um grupo diverso sem um time de profissionais especialistas no assunto e que, dentro da redação, também compõem essa diversidade.
Narrativa transmídia
Em um mundo altamente digitalizado, são poucas as casas editoriais que mantêm o formato impresso. Embora este não tenha sido abandonado, é fundamental que as revistas utilizem em conjunto as novas tecnologias e redes sociais, seja para propulsionar seu material jornalístico ou mesmo se apropriar das ferramentas advindas do meio. Vídeos, fotos, links, hashtags e, por que não, interação direta com o público, expandem a experiência da publicação, atingindo cada vez mais internautas e garantindo espaço para assuntos que, se não por isso, seriam descartados.
Periodicidade
Diferentes modelos de mídia exigem diferentes periodicidades. Ao passo em que as mídias digitais surgem como uma forma mais pontual na entrega de pautas quentes e updates diários, o print dá protagonismo às matérias aprofundadas e com “data de validade” mais longa. Na Glamour, as edições impressas são bianuais e contam com layout e acabamento de luxo, dando prioridade para temas duradouros. Enquanto isso, nas redes sociais, o veículo preza por rápida entrega e descrições sucintas, mantendo os seguidores informados durante o dia-a-dia.
Editores como embaixadores
“Quem faz a Glamour é muito o rosto da Glamour”, é assim que Renata Garcia descreve seu time. Da mesma forma que as revistas passam a utilizar do meio digital para propulsionar seu conteúdo e alcançar novos públicos, seus editores, antes escondidos por trás das publicações, ganham uma nova plataforma e, em consequência, assumem papel de embaixadores, tanto para a revista quanto para as marcas que nela anunciam — através disso, a equipe se conecta com o público — o qual já compartilha de pontos em comum – e estabelece um maior vínculo, carregando consigo a mensagem e os valores da magazine.
Diante de uma infinidade de mídias e títulos, cabe ao jornalista buscar qual diferencial irá destacar seu trabalho. Dentro da revista Glamour Brasil, pontos como a representatividade, inclusão e a luta por uma identidade própria formam os valores de uma equipe em constante busca por renovação e entrega responsável de conteúdo de qualidade. Quando esses atributos convergem, o resultado é um jornalismo de moda que vai além do estilo — se torna também um agente de transformação, capaz de inspirar, representar e fazer a diferença no modo como os leitores percebem e habitam o mundo.