Filipe, o Duque de Orleãns, foi um dos primeiros membros LGBTQ+ a se destacar na moda – graças à aceitação do seu irmão, o rei católico Luís XIV -. Grande apoiador deste sistema na época, o Duque comprava centenas de sapatos e hábitos, parcialmente presenteados ao seu amante e também encomendados em moldes femininos. Mas Filipe era nobre e protegido por nepotismo: mais de 300 anos depois, a comunidade luta por representatividade e espaço de atuação na indústria.
Em 1980, a modelo americana transexual Tracey Norman teve a sua carreira prejudicada depois que o assistente de seu cabeleireiro revelou o seu segredo para a editora da revista Essence, que a estava fotografando. Foi apenas em 2016, quando sua queda foi relatada pela New York Magazine, que Norman voltou ao cenário da moda e o encontrou bem diferente.
Desfile manifesto da Burberry em fevereiro de 2018. Foto: Jamie Stoker / Vogue Int.
Pisa forte na passarela
Casas como Louis Vuitton, Chanel e Dior tiveram em seus desfiles e campanhas modelos como Teddy Quinlivan, Hunter Schafer e Indya Moore, todas mulheres transgêneros. Prada, Gucci e Miu Miu abriram espaço para modelos como Nathan Wrestling, homem transgênero.
De acordo com a consultoria Tagwalk, 25% dos 68 principais desfiles da temporada de primavera/verão 2019 tiveram modelos que se identificam abertamente como queer. Em uma análise de 2016, esse número não ultrapassou de 15%.
O diretor da DM casting, Samuel Scheinman, responsável pela contratação de modelos para Saint Laurent e Louis Vuitton, afirma que, hoje, mais pessoas estão perdendo o medo de que “ser transgênero pode afetar negativamente sua carreira”.
Força trans
No Brasil, a inserção da comunidade trans nesse universo está se fortalecendo e já conta com o seu batalhão de guerreir@s. Lea T foi um dos primeiros nomes nacionais de destaque. A modelo Valentina Sampaio foi contratada pela Victoria’s Secret. E a cantora Liniker assinou um texto para a segunda edição da revista Chime, criada pela grife Gucci.
Partindo dos corredores de Versalhes até as passarelas do século XXI, a comunidade LGBTQ+ lutou e ainda se esforça por espaço. Mas a cada nova temporada, abre portas e derruba preconceitos. Nas palavras do irmão do Duque de Orleãns, o rei Sol: “moda é o espelho da História”. Dessa forma, deve refletir a sociedade e quem faz parte dela.