As iniciais YSL costumam despertar diferentes sensações. Para alguns, evocam tempos passados de glamour, sofisticação e o talento quase divino do “último grande costureiro do mundo”. Para outros, a memória de um homem mimado, depressivo, mergulhado nas drogas e álcool. Seja qual for a perspectiva, é fato que Yves Saint Laurent foi um dos maiores nomes da moda no século XX, revolucionando completamente a figura feminina e seus modos de vestir.
Ao lado de seu companheiro, o empresário Pierre Bergé, Yves abriu em 1961 sua própria maison de alta-costura, em Paris, onde trabalharia por mais de 40 anos. Lá, ele desenvolveu criações originais, polêmicas e, finalmente, icônicas. Também fez parte de uma importante mudança que ocorreu na indústria durante os anos 1960: a popularização do prêt-à-porter, o pronto para vestir.
Em 1966, abriu a SAINT LAURENT Rive Gauche, uma butique de roupas prontas, ainda que continuasse desenhando para seu ateliê de alta-costura. A loja fez um grande sucesso e suas criações rapidamente se espalharam para quase 200 lojas pelo mundo, ajudando a difundir seu nome. Nesta lista, você vai conhecer 10 fatos sobre vida profissional e pessoal do estilista.
Yves em Dar el-Hanch, Marrocos, em 1967. Foto por Pierre Bergé, disponível no livro “Yves Saint Laurent: Une Passion Marrocaine”, de Pierre Bergé.
1 – Pés Negros
Yves Henri Donat Mathieu-Saint Laurent nasceu em Orã, na Árgelia, em agosto de 1936. Sendo um europeu no Norte da África, Saint Laurent fazia parte dos pieds-noirs, “pés negros”. A origem do termo é variada, mas acredita-se que venha das botas de couro que os soldados franceses usavam durante o período em que a Argélia foi colônia da França.
2 – O Pequeno Príncipe da Moda
Saint Laurent seguiu para Paris aos 18 anos em 1954 e, no ano seguinte, já estava trabalhando no ateliê de Christian Dior, como seu assistente. Em 1957, assumiu a direção da casa, aos 21 anos, após a morte de Dior, e apresentou sua primeira coleção (chamada Trapézio) em 1958. O sucesso foi tamanho que a imprensa o apelidou de “Pequeno Príncipe da Moda”.
3 – Soldado Saint Laurent
Em 1960, foi convocado para lutar pela França na Guerra de Independência Argelina. Passou dois meses em um hospital militar em Paris com depressão, até ser demitido da Dior. Pierre Bergé, empresário que conheceu dois anos antes, visitava o estilista e surgiu com a ideia de fundar o ateliê Yves Saint Laurent, que abriria no ano seguinte.
4 – As musas
Betty Catroux e Loulou de la Falaise. Essas duas mulheres em especial marcaram o círculo íntimo de amigos do estilista e serviram como musas. Filha de uma socialite brasileira, Betty Catroux modelou para a Chanel antes de chamar a atenção de Yves, que a considerava sua irmã gêmea. Já Loulou de la Falaise era filha de um nobre inglês e conquistou o estilista com suas roupas de brechós e gosto incomum para bijuterias. Yves a contratou como responsável por acessórios em seu ateliê, onde ela ficou por 30 anos.
Loulou de la Falaise, Yves Saint Laurent e Betty Catroux na casa do estilista, em Paris, 1979. Foto disponível no livro “All About Yves”, de Catherine Örmen.
5 – Anos de Criatividade
Em 1965, Yves lançou a coleção Mondrian, que foi um enorme sucesso. No ano seguinte, surpreendeu com o le smoking, uma versão feminina do clássico visual masculino, que se tornaria uma de suas assinaturas. Em 1968, voltou a impressionar com a jaqueta safári, uma releitura sexy e moderna das roupas usadas em expedições pela savana africana, que se tornaria uma peça essencial no guarda roupa de verão.
6 – A Casa da Serpente
Em 1966, Yves e Pierre visitaram Marrocos pela primeira vez e se apaixonaram imediatamente. Compraram uma propriedade chamada Dar el-Hanch, “a casa da serpente”. O local se tornou um grande refúgio para o estilista, que o visitava várias vezes ao ano para desenhar suas coleções e levar os amigos. A casa foi trocada em 1974 por Dar es Saada, “a casa da felicidade na serenidade”, até comprarem também o Jardim Majorelle, em 1980. Hoje, existem dois museus na região dedicados ao estilista.
7 – O Amor é um Pássaro Rebelde
No fim de 1973, Yves Saint Laurent conheceu o socialite Jacques de Bascher, então companheiro do também estilista Karl Lagerfeld. Reconhecidamente charmoso, De Bascher conquistou rapidamente Saint Laurent, que fez do garoto – 15 anos mais novo – objeto de sua obsessão. O affair duraria apenas alguns meses, terminando com a intervenção de Pierre Bergé. O caso resultou no fim do relacionamento amoroso entre o estilista e o empresário, que se mantiveram amigos e parceiros de negócios até o fim da vida. Jacques de Bascher morreria em 1989, aos 38 anos, vítima de AIDS, ainda como companheiro de Lagerfeld.
Pierre Bergé e Jacques de Bascher na casa de Yves Saint Laurent, em 1974, durante um coquetel de Andy Warhol. Foto por Philippe Heurtault, disponível no livro “Jacques de Bascher”, de Philippe Heurtault e Christian Dumais-Lvwoski.
8 – Sexo, drogas e haute couture
Nos anos 70, o abuso do álcool e drogas e as madrugadas incessantes em boates – somados a obrigação de apresentar quatro coleções ao ano –, realçaram a delicada psique do estilista, que passou a ter longos episódios de depressão profunda, delírio e acessos de raiva. Deixava de comparecer ao ateliê e, quando o fazia, instruía suas costureiras a espantar as clientes.
9 – Melhor Amigo do Homem
Nos anos 80, Yves teve um buldogue francês chamado Moujik. O cão teria morrido no fim daquela década vítima de uma picada de escorpião em Marrocos. Bergé comprou um filhote idêntico ao anterior, que Yves batizou de Moujik II. Com a morte desse, viriam Moujik III e, finalmente, Moujik IV. Saint Laurent dizia frequentemente que os cães o divertiam após os dias de trabalho.
10 – As Luzes se Apagam
Abdicar das drogas e voltar a criar sóbrio não foi uma tarefa fácil para Yves Saint Laurent. Suas últimas duas décadas como estilista tiveram períodos de falta de inspiração e episódios de confusão mental (sequela dos longos anos de uso de entorpecentes). Em 2002, Saint Laurent anunciou sua aposentadoria, seguido de um último desfile: uma retrospectiva de seus 40 anos na moda, com peças de todas as suas coleções anteriores. Sem saber que possuía um câncer terminal no cérebro, o criador morreu em 2008, aos 71 anos, em Paris.