A lendária editora-chefe da Vogue americana, Anna Wintour, está envolvida em relatos de discriminação e de falta de diversidade racial nos escritórios da Condé Nast. O movimento ganhou força após o assassinato do cantor George Floyd por um policial branco em Mineápolis, nos Estados Unidos.
André Leon Talley detalha a sua relação com Anna
Wintour em The Chifon Trenches, seu livro recém-lançado. Foto: reprodução Vulture.
Shelby Ivey, que já trabalhou na Condé Nast, afirmou em seu Twitter que foi desafiador e um “trabalho completamente ingrato com um salário terrível; o racismo foi cansativo”. André Leon Talley, ex-editor geral da Vogue americana, acaba de lançar um livro com revelações de sua relação com Anna. Talley afirmou que a editora incentiva um ambiente tomado por práticas coloniais e nunca deixará nada atrapalhar seu privilégio branco. Ele referiu-se à britânica como uma “dama colonial”.
LeBron James e Gisele Bundchen na capa da Vogue americana. Foto: Annie Leibovitz / reprodução Pulpy Culture
Além disso, a Vogue tem sido criticada por uma série de imagens que construiu nos últimos anos que teriam teor racista: a capa de LeBron James com Gisele Bündchen, onde estaria sendo feita uma apologia ao King Kong, um editorial no qual a modelo branca Karlie Kloss encarnou uma gueixa, dentre outras.
Karlie Kloss como gueixa para editorial da mesma revista. Foto: Mikael Jansson / reprodução: Medium Acculturated
Resposta
Segundo o The New York Times, a editora de moda enviou uma mensagem aos funcionários em meio às manifestações antirracistas americanas pedindo desculpas por “publicar imagens ou histórias que foram prejudiciais ou intolerantes”, admitindo que havia poucos negros nos escritórios. Afirmou ainda que a Vogue “não encontrou maneiras suficientes de elevar e dar espaço a editores, escritores, fotógrafos, designers e outros criadores de conteúdo negros. […] Eu assumo total responsabilidade por esses erros”.
Wintour comanda a Vogue há mais de 30 anos. Além do cargo de editora-chefe, ela também é diretora criativa da Condé Nast. Foto: Edward Berthelot / WireImage / reprodução: today.com/style
Roger Lynch, CEO da Condé Nast, afirmou ao jornal inglês The Guardian que poucas pessoas no mundo podem fazer grandes mudanças. “A razão pela qual [Anna] está aqui é porque ela pode ajudar a influenciar a mudança que precisamos fazer, e eu sei que está comprometida”, disse o chefe das publicações.
As declarações de ex-funcionários provocam um necessário e tardio abalo em grandes corporações ao redor do mundo, que muitas vezes se desculpam e reconhecem a necessidade de reconfiguração. Entretanto, apenas com reparação efetiva, através da maior contratação e valorização de profissionais negros em todos os níveis de cargos, é que a mudança pode ser alcançada.