Surrealismo não é novidade na Maison Schiaparelli. A sua fundadora, a italiana Elsa Schiaparelli, foi uma figura singular na sociedade parisiense dos anos 30, oferecendo festas e criando coleções ousadas para o desgosto dos mais sóbrios, como Coco Chanel. Para o desfile de alta-costura apresentado na última segunda-feira (20/01), sob direção criativa de Daniel Roseberry, foi feito do início ao fim um tributo à essa essência atrevida.
Apresentação de alta-costura homenageou as raízes da maison. Crédito: The Glass Magazine
Na maison há menos de um ano, Roseberry explorou a dualidade de Schiap (apelido da estilista): introvertida nos dias de trabalho e extrovertida nas noites de celebração. O designer também se inspirou nos amigos dela, que colaboraram enormemente para suas criações, como Salvador Dalí, Jean Cocteau e Alberto Giacometti.
O sol que Dalí desenhou para decorar a embalagem do perfume Rei Sol de Schiaparelli, em 1947, tornou-se um bordado nas mãos de Roseberry. Além disso, o vestido esqueleto (criado por Schiap e Dalí em 1938) serviu como inspiração para luvas bordadas com metais e pérolas no formato de ossos nos dedos.
As bijuterias também tiveram grande destaque. O broche em formato de olho que Jean Cocteau desenhou para Schiaparelli em 1937 originou brincos e botões (também criados com base em desenhos de Alberto Giacometti).
Signos da marca
Daniel Roseberry fez uma homenagem íntima e contemporânea a Elsa Schiaparelli. Signos como a letra S, a íris (flor favorita da estilista) e sua fita métrica apareceram, seja em bordados, acessórios ou pequenos detalhes.
A sensação é de que o estilista não criou apenas vestidos, mas também reproduziu com sensibilidade o que se pode apenas descrever como um sonho (ou talvez delírio?) elegante e surrealista que Schiap teria tido após algumas taças de champanhe em suas famosas festas em Paris.
Um sonho que começa em tons neutros – como preto, marrom e azul marinho, característicos do decorador Jean-Michel Frank, também amigo da estilista – apenas para terminar na vivacidade do rosa, azul e laranja. A dualidade de Elsa Schiaparelli em sua melhor síntese até hoje.