A regra é clara em tempos de pandemia: o confinamento social é necessário, temos que ficar em casa. Não por opção, mas por necessidade de sobrevivência e do pensar coletivo. O momento não é para mood de férias, de alta performance e produtividade, ou para comportamentos padrões de um mundo antes de todo o caos que em todos vivemos. É um momento de pausa, ajuda mútua e olhar sensível para o todo, que, definitivamente, não está sendo representado na amostra de uma bolha.
Tempo de calma e vagar: consumidor asiático na volta às ruas pós-confinamento (Foto: WGSN)
Com a falta dessa noção de realidade e conexão com o entorno é que marcas, revistas e influenciadores mostram-se apáticos e indiferentes com o que se vê do lado de fora da janela individual em tempos de Covid-19. Ignorando a seriedade de uma pandemia e de tudo que vem com ela – insegurança, crise econômica, desemprego, sucateamento do sistema de saúde, etc. , – revistas fazem lives discutindo sobre “como será a ida aos restaurantes mais badalados, uma vez que têm fila de espera”; ou fazem interações em forma de games para lembrarem das viagens que os seguidores já fizeram e gostariam de dar check-in nos dias de hoje devido à saudade da vida de antigamente. Influenciadoras, por sua vez, agem como se houvesse diversos eventos sociais ao mostrarem os looks do dia patrocinados por marcas que, curiosamente, bem como suas embaixadoras, também não entenderam que não há ocasiões para trocas de roupas. É tempo de cuidar do cliente, do seguidor e do leitor como seres humanos passíveis de todas as fraquezas e vulnerabilidades que cercam a todos. Não é tempo de vender: é tempo de cuidar da comunidade que se criou em torno de quem se é.
Sem perceber ou estar atenta à seriedade do momento, estilista e influenciadora digital Lolita Hannud apoia-se na doença que devasta o mundo para criar categoria de looks do dia na quarentena. (Foto: Reprodução/Instagram)
A busca por engajamento e likes vazios mostra-se como o único direcional mais importante das empresas e influenciadores. Há um certo delay para entender que nunca foi tão urgente se desvencilhar das atitudes egocêntricas e compreender que o outro é mais que uma plateia de seguidores. O dever e a responsabilidade de informar e interagir de forma sensível e respeitosa com a audiência nunca foram tão necessários. Mas não… em terras de Instagram só há alienação social.
Hasthag sem senso crítico: influenciadora Arícia Silva também é uma das que ignoram a seriedade do problema que o mundo enfrenta.
O sentido da palavra blasè (bem usado no mundo da moda, vale dizer) nunca foi tão genuíno à sua essência: ato de ignorar, com indiferença e certa prepotência, o que acontece ao próprio redor. Com isso, temos personas famosas como Gabriela Pugliesi dando festas em plena quarentena. Outras, criando hastags de looks do dia com “Covid Looks”. Sem contar as marcas que se aproveitam de fetichização da mercadoria para vender máscaras por quase 200 reais, como foi o caso da Osklen. Esvazia-se o significado da função de uma máscara e colocam o teor da moda para vender produtos a preços duvidosos (para não dizer oportunistas!). Entretanto, nada de novo sob o sol – que hoje nasce com molduras de janelas e um sentimento de impotência. Mas é bem aquilo que a gente já sabia do velho mundo e que impera neste momento: enquanto uns choram, outros vendem lenço. E assim vamos seguindo à espera de empatia e senso crítico.