Os holofotes estão sobre a Victoria’s Secret como não ficavam há um tempo. Conhecida pelo desfile com supermodelos inalcançáveis, a label está passando por uma crise de identificação com o público. Em uma era de positividade corporal, medidas restritas são cada vez menos aceitas. No início do ano, a L Brands anunciou que planejava fechar mais de 50 lojas da marca em 2019.
Casting do Victoria’s Secret Fashion show conduzido por Ed Razek. (Foto: divulgação)
Os rumores que o show deste ano não iria acontecer foram apenas o início. A partir de uma declaração da modelo Shanina Shaik, em entrevista ao The Daily Telegraph, o assunto ganhou mais força: “Infelizmente, o Victoria’s Secret Fashion Show não vai acontecer neste ano […] Mas tenho certeza de que no futuro algo vai acontecer, estou certa disso”, contou.
Segundo ela, os produtores provavelmente deviam estar trabalhando na marca e procurando outras formas de fazer o desfile, “porque é o melhor show do mundo”. Pouco depois, em um memorando direcionado aos funcionários, o diretor-executivo Les Wexner confirmou que o desfile estava passando por mudanças e que um novo tipo de evento estava sendo desenhado.
“Decidimos repensar o tradicional VSFS. No futuro, não acreditamos que a rede de televisão seja a opção certa”, explicou.
Asas para quem?
A crise da empresa ficou mais forte quando o então diretor executivo de marketing Ed Razek disse, no ano passado, em entrevista à Vogue americana, que as pessoas não têm interesse em um show com modelos de tamanhos maiores. Além disso, ele se mostrou contrário à inclusão de transexuais na passarela.
“Você não deveria ter transexuais no desfile? Não, não, acho que devemos. Bem, por que não? Porque o show é uma fantasia”, declarou.
Valentina Sampaio foi a primeira transexual a posar para a Victoria’s Secret. (Foto: book da modelo, fotógrafo não identificado).
O que ele não esperava era uma reviravolta. Pouco antes de abdicar do seu posto na VS, a modelo transexual brasileira Valentina Sampaio foi contratada para uma sessão de fotos da linha PINK. Em entrevista a ELA, do grupo globo, Valentina disse se sentir “honrada e feliz”.
“Cheguei a ser cancelada de trabalhos por acharem que eu não estaria alinhada com a filosofia conservadora de determinadas marcas. Naquele momento, isso me machucou. Cogitei que havia algo de errado comigo. Depois, entendi que eu não era o problema”, reflete.
A força do positivo
Na contramão da perpetuação histórica de padrões, o movimento Body Positive (Positividade Corporal) nasce nos Estados Unidos no fim dos anos 1990 com a iniciativa de duas mulheres: Connie Sobczak e Elizabeth Scott.
Ao contrário da Victoria’s Secret, a Fenty Savage inclui mulheres com diferentes tipos físicos. (Foto: Myah Jones)
O BP visa a aceitação corporal de acordo com as características e história de cada mulher. Além disso, há também um recorte social: todos os corpos têm direito de acessar espaços representativos.
Uma das marcas que ficou reconhecida por estar em sintonia com esse movimento é a SAVEGE X FENTY, de Rihanna. Enquanto a numeração da Victoria’s Secret vai até o 40DDD (52 no tamanho brasileiro), a marca de Riri abrange até o 46DDD.
“Queremos que as pessoas fiquem bem e se sintam bem”, explica a empresária e artista no site da empresa.
Choque de realidade
A mídia possui grande influência na maneira como os corpos são percebidos e sentidos, afetando desde aspectos íntimos até coletivos.
De acordo com o Google Trends, um mês após a transmissão do desfile de 2018 com modelos como Adriana Lima, Kendall Jenner e Gigi Haddid, o assunto “Victoria’s Secret Model Diet” (Dieta de modelos da Victoria’s Secret) teve o maior pico do ano.
O show aconteceu no dia 08/11 e, entre os dias 11 e 17, as pesquisas chegaram a 84 pontos. Na semana anterior ao desfile, ninguém estava buscando pelo assunto na plataforma (0 pontos).