No Brasil, aproximadamente 25% da população têm alguma deficiência. Desse modo, de acordo com dados do IBGE, cerca de 45 milhões de brasileiros precisam de serviços adaptados para as suas necessidades. Em relação ao mercado da moda, porém, ainda existem alguns desafios a serem enfrentados. Uma pesquisa realizada pela MindMiners revelou que 55% das pessoas com deficiência afirmam que comprar roupas é extremamente difícil. Além disso, 63% delas admitiram que deixaram de usar algumas peças, pois sabiam que não ficariam bem em seu corpo.
Indústria da moda precisa ainda pensar de forma social e responsável sobre moda inclusiva. (Foto: Tommy Hilfiger | Reprodução)
Segundo o Banco Mundial,15% da população mundial apresenta alguma deficiência, o que corresponde a cerca de 1 bilhão de pessoas. Contudo, continua sendo este um grupo extremamente excluído, sem representação na mídia ou sofrendo com visões estereotipadas. No Brasil, o tema é tão negligenciado que não existem dados concretos sobre a realidade. Existe, todavia, um estudo realizado pela Wunderman Thompson afirmando que menos de 2% das imagens da mídia mostram pessoas com deficiência.
Preconceito e capacitismo
Segundo a docente de Moda, pesquisadora e especialista em pessoas com deficiência Ana Luiza De Nigris, a falta de oferta na indústria têxtil para o público PcD se deve ao preconceito e à falta de informação sobre o tema. De forma a atender às necessidades específicas de uma pessoa com deficiência, a marca deve atentar-se à acessibilidade das peças, como elas irão vestir e os tipos de tecidos usados, por exemplo.
Uma das marcas pioneiras em pensar em roupas que atendem ao público de pessoas com deficiências, foi a Tommy Hilfiger. Em 2016, em parceria com a instituição sem fins lucrativos Runway of Dreams, a marca lançou uma coleção chamada Adaptive, com o objetivo de oferecer peças que facilitem a rotina de pessoas com deficiência. Botões magnéticos, fechos de velcro, zíperes feitos para serem abertos com apenas uma mão, são apenas algumas das adaptações da linha. Além da praticidade das roupas, que fornecem autonomia às pessoas, a coleção visa à autoestima do público-alvo, se atentando ao design, caimento e tendências.
A marca nacional Equal Moda Inclusiva também se destaca nesse cenário. Idealizada pela estilista Silvana Louro, a empresa vende camisas, vestidos, saias, calças, casacos e outros itens ajustados para pessoas com deficiência. Há ainda a oferta de acessórios e roupas com etiquetas em Braille.
Segundo a docente de Moda, o mercado ainda vê o público PcD com um olhar capacitista e infantilizado. Tal fato faz com que as pessoas com deficiência não sejam vistas como consumidores. “Acredito que é um mercado em ascensão, tudo na moda inclusiva é muito recente. A comunicação e o marketing devem ser melhorados. As marcas precisam entender que não é uma ação social. As peças precisam ter informação de moda, tendência e referências atuais”, afirma.
E a falta de acessibilidade não está restrita à fabricação de roupas. Lojas físicas e online não cumprem com a lei de acessibilidade -, o que dificulta a experiência de compra dessas pessoas. Nas lojas físicas, os provadores para PcD são usados como depósito, os corredores são pequenos e as araras são muito altas. Também é escassa a oferta de descrições das roupas expostas. Hoje, já existem ferramentas tecnológicas de descrição, o que seria muito útil para pessoas com deficiência visual.
As lojas online, por sua vez, apresentam outros entraves. Imagens com descrições confusas ou inexistentes são um deles. Há ainda sites que não possuem foco para navegação no teclado. Isso é prejudicial porque algumas pessoas não conseguem utilizar o mouse e se orientam apenas por meio das teclas.
Um ramo em crescimento
Além da falta de representatividade, há o fator financeiro, pois é um mercado potencialmente promissor. Por exemplo, a Kantar declarou que, em 2020, o setor de varejo estava estimado em 300 bilhões de dólares, após a empresa analisar dados de 1500 dos principais distribuidores mundiais. No que se refere ao cenário da moda inclusiva, calcula-se que haverá um crescimento de 278,9 milhões de dólares para 400 milhões de dólares (de 2017 a 2026), isso de acordo com a consultoria Coherent Market Insights.
A moda inclusiva possibilita a independência e facilita a rotina de uma pessoa. No entanto, ela também é necessária para expressão da autenticidade e auto-estima. “O que temos que entender é que um dos pilares é o conforto e praticidade do usuário. Mas o principal é pensar na inclusão de todos os corpos que não são contemplados pela moda”, diz Ana Luiza.