Ela é um furacão. Mas vale ressaltar: por onde passa deixa aquele perfume de delicadeza e inteligência – e muita construção de diálogo. E não é para menos: ela sabe muito bem o que quer e é daquelas pessoas que inspiram pelo simples fato de vive com propósito e desejo por mudança. Patrícia Gomes Cardim, uma jovem encantadora, é o nome por trás do Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo, que há 92 anos vem contribuindo para a evolução da educação no país, sendo 20 com a contribuição do olhar dessa paulistana.
Atualmente na função de diretora geral da instituição acadêmica, Patrícia, que é formada em Design de Moda (pela Belas Artes, claro), vive atrás de jeitos, formas e conteúdo para instigar a criatividade e empreendedorismo dos milhares de alunos. Duvida? Experimente passar um dia em algum campus da faculdade para ver o que os alunos aprontam sob a tutela de Patrícia e seu time acadêmico. É lindo ver cada entrega, cada trabalho, cada projeto que nasce ali dentro. Abaixo, uma entrevista com a doce e querida Patrícia Gomes Cardim sobre moda e educação.
Foto Reprodução | Alda Dantas
92 anos de Belas Artes: o que podemos elencar como divisor de água quando pensamos em moda? Pode citar 3 momentos desde a inauguração?
A Belas Artes foi inaugurada em 1925, no contexto da Semana de Arte Moderna de 1922. Seu fundador, Pedro Augusto Gomes Cardim, era uma pessoa à frente do seu tempo, acreditava nas áreas da Economia Criativa muito antes de existir o termo, isso reflete em todos os nossos cursos. Na Belas Artes, entendemos que nem todo aluno que estuda Moda quer ser estilista, por isso nos preocupamos em prepará-los para atuar nas áreas de gestão, design de superfícies, estamparia, editorial, empreendedorismo, entre outras. Diria que esse pode ser um divisor de águas, até alguns anos atrás o termo “moda” estava diretamente ligado a ser estilista.Ao longo dos anos, posso dizer que foram muitos divisores de água. Somos disruptivos, inovadores e nossa busca pela excelência é eterna. Entre os destaques, citaria o Observatório de Economia Criativa, onde constatamos quais são os mercados possíveis e em crescimento, o que nos fez repensar todas as disciplinas da Matriz. A matriz concentrada em 3 anos, com disciplinas mais práticas, mais conectada com as outras áreas do Design. Equipamentos e laboratórios de ponta, inclusive, laboratório que permite o desenvolvimento de roupas e acessórios em 3D. A entrada de Wearble na matriz – estamos cada vez mais vendo wearbles no dia a dia -, a possibilidade de criar fashion films em Realidade Virtual dentro do nosso Laboratório de Design e Experiências Imersivas. Também enxergamos o Slow Fashion como novo mercado, apostando nos nossos criativos. A Ferraz Moda mantém um acervo com peças de alunos que vão para pautas, produções e editoriais de moda. E, por último, nossa mais recente criação: o Creative Collectibles. O evento é, sem dúvida um modelo de apresentação de tcc pioneiro e que será seguido por muitas outras escolas. Diferente de uma apresentação tradicional, nós criamos uma atmosfera semelhante a de uma feira de ciências, onde cada grupo ou aluno tem o seus espaço para expor o projeto. Ao longo do período, os avaliadores passam por seus “estandes” e o aluno precisa falar sobre o seu projeto. Não só professores avaliadores recebem a explicação, mas também profissionais do mercado e os familiares. O Collectibles é aberto ao público e acontece semestralmente.
Como acadêmica, qual a importância da moda na sociedade?
Observar a moda, com toda a sua efemeridade e rapidez de uma espuma, tem sido fundamental para replicar o modelo que este mercado estabeleceu e agora se aplica em quase toda a cadeia criativa. A moda é o comportamento da sociedade, segmenta e agrupa nichos por aproximação.
Será ainda solucionadora de toda uma nova logica de reuso, de pensar os recursos, de elevar a criatividade humana e por final também nos auxiliar em muitas questões biológicas com o Wearble.
O que seria exatamente Fashion Studies e como a Belas Artes se prepara para tal quando pensamos em pesquisas acadêmica na área de moda?
Apesar de sermos um Centro Universitário e não termos obrigação de pesquisa, acabamos de ter aprovado um Mestrado na área de Design. Dentro da linha de pesquisa Arte, Design e Tecnologia, temos disciplinas que abrangem materiais, teoria da imagem e convergências e compartilhamento. Todas as disciplinas são ministradas por profissionais renomados e grandes pesquisadores. Entre as disciplinas, gostaria de destacar três delas que, inclusive, são ministradas por pesquisadoras incríveis e referência nacional e internacional. A primeira é a Materials Experience, ministrada pela Profa. Dra. Bruna Beatriz Petreca. Bruna é pesquisadora de materiais, especialista em design sensorial e, hoje, responsável pela Biblioteca de Materiais da Belas Artes. A segunda é a Estruturas Biomiméticas e Processos Cognitivos, oferecido pela Professora Andrea Macruz e que visa mostrar para o estudante como é usar os elementos da natureza no design, não só pelas formas e cores, mas trazendo as funções para os objetos. E, por fim, as disciplinas ministradas pela Professora Doutora Maria Carolina Garcia: Teoria da Imagem e Convergência e Compartilhamento. Carol é também coordenadora do núcleo de design, possui graduação em Comunicação Social – tem mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica. Coolhunter desde 1999, atua em países da América Latina. É conselheira do Instituto Brasileiro de Moda e do Instituto Rio Moda, assim como conferencista convidada de várias instituições de ensino no Brasil e no exterior. A Belas Artes tem um “dream team” para quem está interessado em fashion studies.Engatinhamos nas pesquisas e reflexões sobre a moda no contexto social de forma mais amplificada – seja na indústria têxtil ou no contexto histórico. Sua visão é otimista quando se pensa em moda dentro da academia/universidade?
Sou uma realista. A academia deve ter o objetivo de antecipar tendências, o que é bastante desafiador para um mercado que está em eterna ebulição e transformação. Penso que a Belas Artes tem uma equipe bastante motivada e engajada em transformar em carreira, o talento dos nossos discentes.Hoje, muitos querem atuar/trabalhar com a moda devido ao glamour que o segmento vende, mesmo que de forma ilusória. Os profissionais da moda erram ao reforçar essa glamouralização? isso de certa forma reforça o estereótipo de futilidade?
Dependendo da marca, a glamourização faz parte e não deve ser banida ou estereotipada. Vejo um movimento muito grande em torno da moda consciente com novas lógicas do processo industrial e também dos recursos naturais, tudo isso servindo de valor agregado e fator decisivo para o cliente.Qual é o seu maior sonho/desejo quando pensa em moda, brasil e academia?
O meu objetivo é, cada vez mais, mostrar quão rico e criativo o mercado brasileiro é. Temos uma infinidade de materiais para trabalhar, estudar, pesquisar, além de uma enorme área de atuação. O mercado de moda precisa ser entendido como business, ele é parte essencial dentro da Economia Criativa. Na Belas Artes já pensamos dessa maneira, mas o mundo ideal existirá quando todas as pontas – empresário, artista, mercado, governo, etc – passar a enxergar assim.3 livros que você indicaria para quem quer saber sobre moda e comunicação?
Entender de moda, é entender de comportamento. Portanto eu sugiro que sejam ferozes consumidores de autores que mostram como se dá o consumo e o comportamento contemporâneo. Todos do sociólogo francês Gilles Lipovestky, autor obrigatório para quem é da moda, principalmente o recente Da Leveza, Moda a Brasileira da Alice Ferraz, tudo das autoras (artigos e livros) da Kathia Castilho e da Maria Carolina Garcia é maravilhoso e fundamental. Também sugiro se manter atualizados no businessoffashion.com