VOCÊ ESTÁ LENDO >> IAM Entrevista: Patrícia Cardim fala sobre moda e educação
POR Andreia Meneguete | 14 de agosto

Ela é o nome por trás da Belas Artes que há 92 anos vem contribuindo para a evolução da educação de moda no país

Ela é um furacão. Mas vale ressaltar: por onde passa deixa aquele perfume de delicadeza e inteligência – e muita construção de diálogo. E não é para menos: ela sabe muito bem o que quer e é daquelas pessoas que inspiram pelo simples fato de vive com propósito e desejo por mudança. Patrícia Gomes Cardim, uma jovem encantadora, é o nome por trás do Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo,  que há 92 anos vem contribuindo para a evolução da educação no país, sendo 20 com a contribuição do olhar dessa paulistana.

Atualmente na função de diretora geral da instituição acadêmica, Patrícia, que é formada em Design de Moda (pela Belas Artes, claro), vive atrás de jeitos, formas e conteúdo para instigar a criatividade e empreendedorismo dos milhares de alunos. Duvida? Experimente passar um dia em algum campus da faculdade para ver o que os alunos aprontam sob a tutela de Patrícia e seu time acadêmico. É lindo ver cada entrega, cada trabalho, cada projeto que nasce ali dentro. Abaixo, uma entrevista com a doce e querida Patrícia Gomes Cardim sobre moda e educação.

Foto Reprodução | Alda Dantas

 

92 anos de Belas Artes: o que podemos elencar como divisor de água quando pensamos em moda? Pode citar 3 momentos desde a inauguração?
A Belas Artes foi inaugurada em 1925, no contexto da Semana de Arte Moderna de 1922. Seu fundador, Pedro Augusto Gomes Cardim, era uma pessoa à frente do seu tempo, acreditava nas áreas da Economia Criativa muito antes de existir o termo, isso reflete em todos os nossos cursos. Na Belas Artes, entendemos que nem todo aluno que estuda Moda quer ser estilista, por isso nos preocupamos em prepará-los para atuar nas áreas de gestão, design de superfícies, estamparia, editorial, empreendedorismo, entre outras. Diria que esse pode ser um divisor de águas, até alguns anos atrás o termo “moda” estava diretamente ligado a ser estilista.

Ao longo dos anos, posso dizer que foram muitos divisores de água. Somos disruptivos, inovadores e nossa busca pela excelência é eterna. Entre os destaques, citaria o Observatório de Economia Criativa, onde constatamos quais são os mercados possíveis e em crescimento, o que nos fez repensar todas as disciplinas da Matriz. A matriz concentrada em 3 anos, com disciplinas mais práticas, mais conectada com as outras áreas do Design. Equipamentos e laboratórios de ponta, inclusive, laboratório que permite o desenvolvimento de roupas e acessórios em 3D. A entrada de Wearble na matriz – estamos cada vez mais vendo wearbles no dia a dia -, a possibilidade de criar fashion films em Realidade Virtual dentro do nosso Laboratório de Design e Experiências Imersivas. Também enxergamos o Slow Fashion como novo mercado, apostando nos nossos criativos. A Ferraz Moda mantém um acervo com peças de alunos que vão para pautas, produções e editoriais de moda. E, por último, nossa mais recente criação: o Creative Collectibles. O evento é, sem dúvida um modelo de apresentação de tcc pioneiro e que será seguido por muitas outras escolas. Diferente de uma apresentação tradicional, nós criamos uma atmosfera semelhante a de uma feira de ciências, onde cada grupo ou aluno tem o seus espaço para expor o projeto. Ao longo do período, os avaliadores passam por seus “estandes” e o aluno precisa falar sobre o seu projeto. Não só professores avaliadores recebem a explicação, mas também profissionais do mercado e os familiares. O Collectibles é aberto ao público e acontece semestralmente.

Como acadêmica, qual a importância da moda na sociedade?
Observar a moda, com toda a sua efemeridade e rapidez de uma espuma, tem sido fundamental para replicar o modelo que este mercado estabeleceu e agora se aplica em quase toda a cadeia criativa. A moda é o comportamento da sociedade, segmenta e agrupa nichos por aproximação.
Será ainda solucionadora de toda uma nova logica de reuso, de pensar os recursos, de elevar a criatividade humana e por final também nos auxiliar em muitas questões biológicas com o Wearble.


O que seria exatamente Fashion Studies e como a Belas Artes se prepara para tal quando pensamos em pesquisas acadêmica na área de moda?

Apesar de sermos um Centro Universitário e não termos obrigação de pesquisa, acabamos de ter aprovado um Mestrado na área de Design. Dentro da linha de pesquisa Arte, Design e Tecnologia, temos disciplinas que abrangem materiais, teoria da imagem e convergências e compartilhamento. Todas as disciplinas são ministradas por profissionais renomados e grandes pesquisadores. Entre as disciplinas, gostaria de destacar três delas que, inclusive, são ministradas por pesquisadoras incríveis e referência nacional e internacional. A primeira é a Materials Experience, ministrada pela Profa. Dra. Bruna Beatriz Petreca. Bruna é pesquisadora de materiais, especialista em design sensorial e, hoje, responsável pela Biblioteca de Materiais da Belas Artes. A segunda é a Estruturas Biomiméticas e Processos Cognitivos, oferecido pela Professora Andrea Macruz e que visa mostrar para o estudante como é usar os elementos da natureza no design, não só pelas formas e cores, mas trazendo as funções para os objetos. E, por fim, as disciplinas ministradas pela Professora Doutora Maria Carolina Garcia: Teoria da Imagem e Convergência e Compartilhamento. Carol é também coordenadora do núcleo de design, possui graduação em Comunicação Social – tem mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica. Coolhunter desde 1999, atua em países da América Latina. É conselheira do Instituto Brasileiro de Moda e do Instituto Rio Moda, assim como conferencista convidada de várias instituições de ensino no Brasil e no exterior. A Belas Artes tem um “dream team” para quem está interessado em fashion studies.

Engatinhamos nas pesquisas e reflexões sobre a moda no contexto social de forma mais amplificada – seja na indústria têxtil ou no contexto histórico. Sua visão é otimista quando se pensa em moda dentro da academia/universidade?
Sou uma realista. A academia deve ter o objetivo de antecipar tendências, o que é bastante desafiador para um mercado que está em eterna ebulição e transformação. Penso que a Belas Artes tem uma equipe bastante motivada e engajada em transformar em carreira, o talento dos nossos discentes.

Hoje, muitos querem atuar/trabalhar com a moda devido ao glamour que o segmento vende, mesmo que de forma ilusória. Os profissionais da moda erram ao reforçar essa glamouralização? isso de certa forma reforça o estereótipo de futilidade?
Dependendo da marca, a glamourização faz parte e não deve ser banida ou estereotipada. Vejo um movimento muito grande em torno da moda consciente com novas lógicas do processo industrial e também dos recursos naturais, tudo isso servindo de valor agregado e fator decisivo para o cliente.

Qual é o seu maior sonho/desejo quando pensa em moda, brasil e academia?
O meu objetivo é, cada vez mais, mostrar quão rico e criativo o mercado brasileiro é. Temos uma infinidade de materiais para trabalhar, estudar, pesquisar, além de uma enorme área de atuação. O mercado de moda precisa ser entendido como business, ele é parte essencial dentro da Economia Criativa. Na Belas Artes já pensamos dessa maneira, mas o mundo ideal existirá quando todas as pontas – empresário, artista, mercado, governo, etc – passar a enxergar assim.

 3 livros que você indicaria para quem quer saber sobre moda e comunicação?
Entender de moda, é entender de comportamento. Portanto eu sugiro que sejam ferozes consumidores de autores que mostram como se dá o consumo e o comportamento contemporâneo. Todos do sociólogo francês Gilles Lipovestky, autor obrigatório para quem é da moda, principalmente o recente Da Leveza, Moda a Brasileira da Alice Ferraz, tudo das autoras (artigos e livros) da Kathia Castilho e da Maria Carolina Garcia é maravilhoso e fundamental. Também sugiro se manter atualizados no businessoffashion.com



ESCRITO POR Andreia Meneguete
Founder @iam.inteligenciaemmoda, lecturer na @nafaap e @iedsp. Consultorias, treinamentos e palestras comunicação, varejo de moda e beleza.

Founder @iam.inteligenciaemmoda, lecturer na @nafaap e @iedsp. Consultorias, treinamentos e palestras comunicação, varejo de moda e beleza.

COMPARTILHAR

COMENTÁRIOS

LEIA MAIS EM Business

10 de agosto

Entrevista com a ativista Belly Palma: “Posso fazer o que eu quiser e do meu jeito”

Influência ativista na internet: Izabelle Palma é a nova voz quando se fala em moda, diversidade e inclusão no Brasil

por Ivan Reis
17 de abril

8 dicas de carreira no Jornalismo de Moda com Laís Franklin, da Vogue Brasil

Editora do site da Vogue Brasil sinaliza pontos importantes para quem deseja seguir na carreira de jornalismo de moda

por Júlia Vilaça

ÚLTIMAS POSTAGENS

Arraste para o lado
6 de novembro

Negócios em foco: 7 Reflexões sobre o Mercado de Luxo com Carlos Ferreirinha

Em palestra no Iguatemi Talks, especialista do mercado de luxo traz insights do segmento para qualquer setor

por Brenda Luchese
5 de novembro

As estratégias da Jacquemus para se tornar “queridinha” no mercado de luxo

Entenda como a marca criada por Simon Jacquemus virou fenômeno e se tornou referência do conceito de novo luxo

por Rebeca Dias
5 de novembro

Cases de Luxo: como a Burberry e Gucci se conectaram com novos consumidores

Veja como as grifes de luxo se adaptaram para atender às transformações dos novos tempos e dos consumidores

por Rebeca Dias
5 de setembro

Fure a bolha: chegou a hora do streetwear brasileiro ganhar destaque global

A consolidação da moda de rua brasileira e como designers de marcas nacionais chegaram a showroom em Paris.

por Júlia Lyz
12 de maio

Copenhagen Fashion Week: conheça semana de moda internacional sustentável

Marcas do evento que visa promover a sustentabilidade precisam respeitar ao menos 18 critérios para inscrição

por Rebeca Dias
12 de maio

Onde está a moda inclusiva? Os desafios para encontrar roupas para o público PcD

Especialista sobre o assunta aponta o preconceito como principal fator para a falta de inclusão na moda

por Beatriz Neves
12 de maio

O QUE O SXSW 2023 E O ÚLTIMO PARIS FASHION WEEK TÊM EM COMUM?

Durante o maior evento de inovação do mundo, a inteligência artificial roubou a cena e nos faz refletir o papel da moda

por Giovanna Schiavon
12 de maio

8 Perfis do Tiktok para Acompanhar e Aprender Sobre o Mercado de Moda

Muito além do look do dia e de dancinhas, o Tiktok permite a democratização e acessibilidade aos conteúdos sobre moda

por Ana Flávia Gimenez